Cuidar da gestão de negócios de forma inteligente tem relação, entre outros fatores, com não entender ações do passado como uma fórmula definitiva para o sucesso, nem se permitir a estagnação no presente. Neste sentido, uma boa ideia é aproveitar o início do ano para avaliar tendências e mudanças que podem impactar a sua operação ou representar oportunidades interessantes.
A partir do estudo Gartner Top Strategic Technology Trends 2023, vamos descobrir o que este novo (e já bastante movimentado) ano deve reservar de interessante para os gestores mais atentos, conectados à tecnologia e inovação. As tendências foram escaladas nas camadas otimização, escala e pioneirismo, envolvidas pela tecnologia sustentável.
Otimização
A abordagem na camada de otimização diz respeito, em linhas gerais, a como os sistemas de TI podem se tornar ainda mais eficientes. Em um ambiente de negócios data driven, é essencial garantir a confiabilidade e a integridade de sistemas e dados. Neste contexto temos as tendências listadas a seguir.
1. Sistema imunológico digital
Atuando de forma similar ao sistema imunológico humano, que detecta e combate ameaças ao organismo para se proteger, os sistemas digitais combinam práticas e tecnologias para aumentar a resiliência de produtos, serviços e sistemas. Estima-se que, até 2025, negócios que aderirem a esta abordagem devem aumentar os índices de satisfação do cliente através de uma redução de 80% no tempo de inatividade.
Caso de uso
O banco Itaú implementou recursos de predição e correção em seus sistemas de monitoramento, viabilizando testes de saúde contínuos, capazes de otimizar a performance e produzir insights para melhorar a experiência de colaboradores e clientes.
Com os recursos adicionados, a taxa de correção automática de incidentes aumentou em 37%, reduzindo o tempo médio de resolução em 45%.
reduzindo o tempo médio de resolução em 45%.
2. Observabilidade aplicada
Mais uma vez, os dados estão no centro do palco. A observabilidade aplicada cumpre a missão de permitir o uso efetivo e integrado de dados observáveis em todas as funções através da operação. Assim, é possível reduzir a latência na reação e no planejamento de decisões de negócios de forma proativa. De acordo com o estudo, até 2026, 70% das organizações que aplicarem a observabilidade aplicada experimentarão a redução da latência na tomada de decisão, o que gera vantagem competitiva em relação a objetivos de negócios e processos de TI.
Caso de uso
A norueguesa Klaveness Ship Management, gerencia uma frota com cerca de 135 embarcações em sua operação. Utilizando dados armazenados, contextualizados e combinados com outras fontes de seu ecossistema, a companhia desenvolveu um painel visual para orientar a tomada de decisão. Assim, com os dados estratégicos disponíveis em um dashboard, os resultados foram a redução do consumo de combustível e custo operacional.
3. TRiSM – Gestão da confiança, risco e segurança de IA
Observando a recente hype de soluções envolvendo a IA Generativa, é possível perceber que grandes mudanças estão ocorrendo rapidamente e precisamos nos adaptar. A Inteligência Artificial demanda novas formas de gestão da confiança, risco e segurança – TRiSM Trust, Risk and Security Management – não oferecidos pelos controles tradicionais. Em termos de negócios, como se comportariam os usuários diante da dúvida sobre violações éticas ou de privacidade na caixa preta da IA?
É esperado que, até 2026, companhias que operacionalizarem a transparência, confiança e segurança em IA verão seus modelos atingirem uma melhoria de 50% em termos de adoção, objetivos de negócios e aceitação dos usuários.
Caso de uso
A Danish Business Authority – DBA – desenvolveu um método para aplicar princípios éticos de alto nível a seus modelos de IA. Conectando seus princípios éticos a ações concretas, verificações e modelos preditivos contra testes de imparcialidade, a companhia construiu um framework de monitoramento. A abordagem auxiliou na rápida implementação e gestão de 16 modelos de IA que cuidam do monitoramento de transações financeiras de bilhões de Euros.
Escala
4. Plataformas de nuvem por segmento
É natural que diferentes modelos de negócios e setores têm necessidades diversas, por isso, utilizam soluções específicas em suas operações. Neste sentido, plataformas de cloud devem ser projetadas para atender às necessidades específicas de segmentos não atendidos de forma satisfatória por soluções genéricas.
Plataformas segmentadas possibilitam a mudança das soluções genéricas para alternativas desenhadas para atender a necessidades específicas dos usuários por segmento. Assim, agregam mais valor por setor, promovendo aumento na agilidade da organização, acelerando também a inovação.
Segundo o Gartner, mais da metade das companhias usarão plataformas de nuvem segmentadas para acelerar suas iniciativas, até o ano de 2027.
Caso de uso
Através de uma parceria com a big tech chinesa Alibaba, a cidade de Hangzhou (China), construiu uma plataforma para realizar a gestão de engarrafamentos e simplificar as operações diárias da cidade. O cérebro da cidade inteligente é uma combinação entre uma plataforma central de dados e aplicações massivas.
Com a implementação da solução, Hangzhou reduziu drasticamente o volume de engarrafamentos, saindo da ingrata posição de 5ª cidade mais engarrafada para abaixo dos 50 primeiros do ranking.
5. Engenharia de Plataforma
Cada vez mais estratégicos para os objetivos de negócios dos clientes, desenvolvedores e profissionais tech precisam dispor de processos fluidos, com o menor atrito possível, para entregar resultados excelentes. Neste sentido, a construção de plataformas operacionais entre o usuário e os serviços de apoio é uma tendência seguida por empresas com visão de futuro.
Até 2026, 80% das organizações de engenharia de software estabelecerão equipes de plataforma, como fornecedores internos de serviços reutilizáveis, componentes e ferramentas para o desenvolvimento de aplicações.
Caso de uso
A Nike construiu plataformas combináveis, que reúnem competências de negócios globais relacionadas de forma estratégica, implementadas por tecnologias modulares, combináveis através de APIs. Para a companhia, a plataforma viabiliza um menor tempo de resposta a mudanças, acelera o lançamento ao mercado, aumenta a escalabilidade e reduz custos operacionais.
6. Realização de valor wireless
Entendemos que há realização de valor quando o cliente entende, de fato, o valor obtido enquanto usa um produto ou serviço. É o momento em que os clientes entendem que estabeleceram uma relação positiva, que lhes agrega valor.
Com a realização de valor wireless, a integração de múltiplas tecnologias sem fio promoverá uma base técnica mais econômica, confiável e escalável, reduzindo os custos de capital. Assim, tanto a utilização, quanto o volume de protocolos e recursos utilizados no suporte a negócios digitais serão ampliados.
Segundo o Gartner, até o ano de 2025, a metade dos endpoints wireless nas empresas usará serviços de rede capazes de entregar recursos adicionais além da comunicação.
Caso de uso
A varejista israelense, Shufersal, usa energia da rede para identificar produtos com chips IoT de baixo consumo energético. Assim, a companhia pode rastrear vegetais das fazendas até as prateleiras, o que traz visibilidade da cadeia de suprimentos, gestão de estoques e informações de origem dos produtos.
Pioneirismo
7. Superapps
Oferecendo conjuntos de serviços aos usuários, são construídos como plataformas para oferecer experiências consistentes e personalizadas. De uma forma simplificada, por reunirem várias funções, os superapps permitem que os usuários resolvam mais de um problema em uma única aplicação. Aqui no Brasil, Uber e iFood se destacam como exemplos.
Estima-se que, nos próximos 4 anos, mais da metade da população global utilizará múltiplos superapps, diariamente.
Caso de uso
No Reio Unido, o Revolut é uma solução disruptiva para os serviços financeiros tradicionais. O superapp que oferecia serviços de digital banking a consumidores, expandiu o ecossistema para empresas, de forma que pequenas, médias e até mesmo freelancers possam oferecer seus serviços.
8. IA adaptativa
É público e notório que, conforme o mundo muda, aumenta a demanda pela capacidade de adaptação de produtos, modelos de negócios e serviços. O valor da Inteligência Artificial aplicada reside não apenas na capacidade de rápido desenvolvimento e implementação, mas também no poder de adaptação através de diferentes ambientes das companhias. Considerando a complexidade da engenharia e a pressão pela velocidade no lançamento das respostas ao mercado, é fundamental garantir que a engenharia de IA contará com processos menos rígidos ou a construção de modelos que possam se auto adaptar em produção. A IA adaptativa acelera a geração de valor, além de mantê-la alinhada aos objetivos de negócios em tempo real.
Até 2026, empresas que adotarem práticas para construção e gestão de sistemas de IA adaptativa irão superar seus pares na operacionalização de IA em pelo menos 25%.
Caso de uso
O software de treinamento baseado em IA utilizado pelo Exército dos EUA – Cerego – permite o aprendizado adaptativo. A solução sabe o que deve ser ensinado, como medir o progresso e quando testá-lo, adaptando as aulas ao progresso de aprendizagem de cada indivíduo.
9. Metaverso
Em destaque desde meados de 2021, quando Mark Zuckerberg anunciou investimentos na tendência tecnológica, e constituído por diversos temas e tendências tecnológicas, o metaverso traz desafios e novas oportunidades para organizações em um amplo espectro de indústrias e casos de uso.
As companhias estão trabalhando no desenvolvimento de maneiras melhorar engajamento, colaboração e conexão das equipes através de espaços de trabalho virtuais e experiências em metaversos internas ou “intraversos”.
Até 2027, mais de 40% das grandes companhias ao redor do mundo vão usar uma combinação de Web3, computação espacial e gêmeos digitais em projetos baseados no metaverso para aumentar suas receitas.
Caso de uso
Siemens e Nvidia estabeleceram uma parceria para criar um metaverso industrial onde os clientes poderão colaborar na criação de soluções de engenharia inovadoras e resolver problemas do mundo real, tudo isso em um ambiente imersivo envolvendo gêmeos digitais, IoT e análises em tempo real.
Um framework para a atuação responsável
10. Tecnologia sustentável
Vivemos um momento de grande conscientização sobre o impacto das atividades humanas no planeta e, principalmente, sobre a urgência em reduzi-los. Neste contexto, a busca por maneiras mais eficientes e sustentáveis de fazer negócios é uma tendência muito bem-vinda.
A utilização de tecnologia sustentável constitui um framework que aumenta a eficiência energética e de materiais dos serviços de TI. Assim, é possível que negócios atuem de forma sustentável através de tecnologias como rastreabilidade, analytics, energias renováveis, ao mesmo tempo em que ajudam clientes em sua busca por sustentabilidade através de aplicativos, softwares e marketplaces, por exemplo.
Além de oferecer novas possibilidades para o crescimento, investimentos em tecnologia sustentável têm potencial para gerar maior resiliência operacional e desempenho financeiro. Imagine, por exemplo, que ao contar com estratégias para atuação sustentável, uma companhia poderá estar previamente adaptada às normas de compliance baseadas em novas leis que regulamentam as atividades do setor.
Para o Gartner, até 2025, metade dos CIOs deverão contar com métricas de performance atreladas à sustentabilidade da organização de TI.
Casos de uso
A tecnologia sustentável pode entrar em cena de diferentes maneiras, trazendo em cada uma delas benefícios para toda a sociedade.
- Na logística, modelos alimentados por IA otimizam a eficiência do transporte marítimo.
- Na gestão de água e energia, IoT e gêmeos digitais podem criar soluções de gestão mais eficientes, capazes de reduzir em 50% o consumo de água.
- Empresas podem se beneficiar do suporte de robôs para a reciclagem, reduzindo a produção de resíduos. Além disso, estratégias de design de produto podem ser projetadas para promover o conceito de economia circular.
- Soluções tecnológicas podem ser projetadas para ajudar clientes a atingir suas metas de sustentabilidade, através de ações como o rastreamento de carbono. Companhias podem engajar colaboradores em estratégias de ESG, com softwares para incentivar a participação em iniciativas sustentáveis.
