O mês de novembro começou com a realização do aguardado leilão das faixas de frequência para operação do 5G no país, o que movimentou um total de R$ 47 bilhões, dos quais R$ 42,4 bi devem ser investidos no cumprimento das obrigações das companhias que arremataram os lotes. Já o saldo de R$ 4,8 bi irá para o caixa do Tesouro Nacional.
Por aqui, a tecnologia 5G começa a se tornar realidade cerca de 10 anos depois da chegada de sua antecessora, quando experimentamos uma transição da navegação móvel a uma velocidade estimada de 2Mbps no 3G para impressionantes 100Mbps – considerando dispositivos em movimento no 4G.
Apesar de consideráveis, as diferenças entre as tecnologias não poderiam ser resumidas apenas à velocidade, afinal, os avanços resultaram em mudanças de hábitos, na forma como nos comunicamos e, principalmente, na maneira como a tecnologia começou a se enraizar ainda mais em nosso cotidiano. Se, por um lado, a evolução que nos levou ao 3G possibilitava a navegação na web, o envio de e-mails e a popularização da Internet móvel no país, o 4G pavimentou o caminho até um momento em que os telefones móveis são utilizados ‘inclusive’ para realizar ligações.
Sim, estamos prestes a experimentar o 5G com todos os seus benefícios. Contudo, também é fato que a infraestrutura para a tecnologia anterior ainda não atende a todos os brasileiros. Pouco mais de 17% das residências ainda não possuem acesso à Internet, com destaque para as áreas rurais, que são as que mais sofrem no que diz respeito à conectividade.
Muito se discute sobre como o 5G revolucionará o mercado e quais benefícios práticos trará tanto para os usuários quanto para o mercado. Por isso, vamos analisar alguns pontos relevantes e possíveis aplicações a seguir.
Preparando o terreno
Até que o 5G atinja pleno funcionamento no Brasil, será preciso lidar com questões infraestruturais e solucionar problemas infelizmente não mitigados com a chegada da tecnologia anterior. Segundo a Conexis, apenas 7 das 27 capitais brasileiras estão bem adaptadas à Lei Geral de Antenas, o que pode atrapalhar os planos da implementação nas capitais até julho de 2022.
Em dezembro do ano passado, havia 5.441 municípios cobertos pelo 4G, dos quais 3.513 eram totalmente atendidos em áreas urbanas. Em contrapartida, nas áreas rurais, apenas 146 municípios tinham cobertura total, enquanto 124 não possuíam qualquer serviço 4G.
Entre os desafios para o cumprimento da meta de ativação do 5G em todo o país até 2029, está a necessidade de levar um volume de antenas 5 a 10 vezes maior que o disponível atualmente, o que se traduz na prática em uma demanda entre 515 mil e 1 milhão de novas antenas.
Além dos desafios infraestruturais, há a necessidade de atualização do hardware do usuário, já que os smartphones, por exemplo, terão acesso a conexões extremamente mais velozes que as disponíveis hoje no 4G. Já existem no mercado modelos de valores mais elevados, prontos para utilizar a rede, mas quem possui aparelhos antigos precisará investir em smartphones mais novos para explorar o potencial da nova tecnologia.
Sobre o impacto no bolso do usuário, as operadoras terão planos específicos, apesar de não se saber precisamente qual será o custo da tecnologia por aqui. A média mundial leva a crer que os serviços custarão, possivelmente, entre R$100 e R$150 reais mensais em pacotes que podem ser ilimitados de acordo com a oferta de lançamento pelas operadoras.
Efeitos e aplicações do 5G no mercado
Conexões até 100 vezes mais rápidas, latência mínima, transferência de até 10 Gbps, redução extrema no consumo de energia, conexão em 100 vezes mais dispositivos por unidade de área em comparação ao 4G e uma cobertura 100% eficiente da área atingida pela rede. É inegável que o 5G será um marco na forma como utilizamos a Internet móvel, pois trará benefícios não apenas para o usuário, como também para a indústria, o comércio e a ciência.
Com uma tecnologia muito mais rápida, podemos esperar importantes mudanças no consumo de mídias e no comportamento dos usuários. Além da redução drástica no tempo para a realização de ações diversas, é natural que videochamadas em 4K e 360° se tornem muito populares, por exemplo.
A latência extremamente baixa favorece a comunicação em tempo real e proporciona experiências mais fluidas, o que tende a valorizar aplicações de realidade virtual e aumentada, por exemplo. Esse mesmo tempo de resposta também é um ponto fundamental para os dispositivos de IoT, como no caso dos veículos autônomos, uma vez que atrasos na comunicação entre alguns dispositivos podem representar riscos reais, como colisões e acidentes nas estradas.
Além disso, feedback tátil e controle remoto de robôs em fábricas e salas de operação também se destacam como possibilidades em um futuro não muito distante. A sensação do feedback ao toque de objetos em tempo real representa um grande valor para o mercado, tanto para o entretenimento quanto para os setores produtivos e para a ciência.
Se, por um lado, precisaremos de novos smartphones para acessar as redes 5G, de outro, o poder da transferência de enormes volumes de dados sem atrasos acaba se traduzindo em uma via de altíssima velocidade entre dispositivos e data centers que processam as aplicações. Apesar do investimento inicial em dispositivos compatíveis para romper a barreira do 4G, nos tornaremos menos dependentes do hardware para extrair desempenho das aplicações móveis.
Ainda há muita expectativa sobre os efeitos da implementação da quinta geração das redes móveis no Brasil, porém, apesar do enorme potencial, é preciso lembrar que era esperada a popularização das videochamadas quando vivemos a chegada do 4G, o que não se tornou tão real quando observamos o crescimento das chamadas de voz através de apps de mensagem, por exemplo. Portanto, caberá ao mercado ficar sempre atento às mudanças no comportamento do consumidor com a chegada da nova tecnologia, mas, seja como for, os dados seguirão sendo valiosos.